sábado, 1 de outubro de 2011

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Do consumo responsável à responsabilidade no consumo.

 Entrevista especial com Júlia Coelho de Souza
 
Você reflete antes de comprar ou consumir algo, no sentido da sua responsabilidade como consumidor, pensando em como aquele produto foi fabricado? Pois a ideia de consumo responsável, segundo a pesquisadora Julia Coelho de Souza, “traz a proposta de que o consumidor é responsável pelas desejadas mudanças e melhorias sociais e ambientais rumo a um planeta mais verde e a uma sociedade mais justa, isentando absolutamente todo o sistema institucional e político mais amplo (seja nos sistemas agroalimentares, no consumo de bens duráveis, de cultura, de informação, de viagens)”.

Julia estárá debatendo o tema “Do consumo responsável à responsabilidade no consumo: reflexões sobre cadeias agroalimentares, slow food e mercados alternativos” na próxima quinta-feira, dia 29 de setembro, no evento IHU ideias, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, das 17h30min às 19h, na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros.

Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, Julia destaca que “a construção e a distorção das imagens relacionando os aspectos saudável, ecológico, puro e sustentável a partir de uma matriz produtiva que se sustenta na pobreza, na desigualdade, na devastação da biodiversidade e da transgenia, realizada através das articulações de detentores de commodities, de sementes e do grande monopólio alimentar, é algo assustador”.

Julia Coelho de Souza possui formação acadêmica multidisciplinar, abrangendo estudos sobre mediações político-culturais no meio rural. Dedica-se a projetos em gestão de empreendimentos associativos, cadeias agroalimentares, planejamento e organização territorial a partir de sistemas produtivos e redes socioeconômicas. Integra o Núcleo de Economia Alternativa e Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, vinculado à Faculdade de Ciências Econômicas na qualidade de pesquisadora associada.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Que diferenças podemos estabelecer entre o consumo responsável e a responsabilidade no consumo?

Julia Coelho de Souza – O consumo responsável é entendido como “a forma comum” do papel político do consumidor. A forma como tem se visto o apelo midático a uma atitude responsável por parte dos consumidores é muito mais um apelo ao consumo de classe média de “produtos verdes”, com foco no aspecto ecológico, justo, sustentável. É uma tendência de consumo, a moda do responsável, do papel cidadão. A responsabilidade no consumo residiria num segundo olhar sobre essa responsabilidade e esse consumo, uma “segunda pele” ou mesmo níveis mais profundos de reflexão sobre esse papel do consumidor, responsável pela “cura” do planeta e pela justiça social através do ato de compra de produtos, bens, dos mais variados tipos. Na verdade, uma das questões-chave é: “em que tipo de produção esse consumo se insere”?

A questão da responsabilidade no consumo significa a compreensão do sistema onde se insere o consumo e o produto consumido. Seria a capacidade crítica e reflexiva de contextualizar a produção e o consumo numa perspectiva de projetos e modelos de desenvolvimento que estão em questão: seja quando se opta, no ato de compra, por um ou por outro produto, ou mesmo no quanto essa opção de consumo efetivamente modifica todo um sistema de produção, ou ainda o quanto o ato do consumo, mesmo deste consumo crítico, é reflexo de quais políticas de desenvolvimento.

Os questionamentos possíveis e pertinentes são muitos, pois me parece falaciosa a ideia de que no consumo da classe média e alta existe um problema grave de (des) equilíbrio ambiental. Existem, sim, problemas sociais de desigualdade, exploração e diversas outras questões outrora abafadas que estão vindo à tona na sociedade de maneira geral hoje em dia (dentro de um longo contexto de lutas ambientais, de classe, etc.). E essa atitude de consumo “qualificado” talvez seja o impulso essencial para mudanças nesse equilíbrio, na natureza do planeta terra, na sociedade ou no que quer que seja que se deseje quando se compra um determinado produto nas prateleiras dos supermercados, ou nas feiras, nos restaurantes, nos sítios de compras, para além do próprio produto, como um objeto de consumo.

A ideia que está sendo construída, via de regra, traz a proposta de que o consumidor é responsável pelas desejadas mudanças e melhorias sociais e ambientais rumo a um planeta mais verde e a uma sociedade mais justa, isentando absolutamente todo o sistema institucional e político mais amplo (seja nos sistemas agroalimentares, no consumo de bens duráveis, de cultura, de informação, de viagens).

IHU On-Line – Que ações práticas caracterizam um consumidor responsável?

Julia Coelho de Souza – Sem estabelecer aqui “tipos” de consumidor (“o responsável” e “o que tem responsabilidade”), me parece que a prática da responsabilidade no consumo é, antes, uma atitude crítica e reflexiva para, a partir daí, pensar na materialidade do consumo ou de práticas que levem a um “consumo responsável”, crítico. Claro que, no âmbito das cadeias agroalimentares, atitudes como a escolha de mercados em que se consome, escolha de marcas, busca das informações de origem, procedência tidas pelos consumidores são atitudes importantes que, de certa forma, caracterizam um consumidor responsável. Parte dessa responsabilidade está na seleção que se faz no consumo, e isso em um espectro bem amplo de consumo, inclusive de informações, de cultura, de produtos e subprodutos das mais distintas indústrias.

Imagino que o que se consome em termos de conteúdo de imagem (de propagandas e campanhas, da história contada, de versões) se reflete em opções de consumo de grande parte da sociedade. Isso quer dizer, também, que tem uma grande e convincente “máscara” entre produtos, processos e mercados. Um exemplo bem elucidativo, nesse sentido, é o consumo de sucos e leites refrescantes e saudáveis, com “selos verdes” (pelo menos na embalagem, enquanto um elemento no layout do produto) em forma de folha, onde está escrito algo como “leve, saudável e natural”, quando são feitos a partir de um subproduto de soja transgênica. Existe aí uma contradição, uma confusão que é um divisor de águas para se definir as escolhas de consumo como responsáveis, críticas, reflexivas e claras quanto ao que se refere efetivamente a essa “escolha” individual (e porventura coletiva também) de consumo.

A construção e a distorção das imagens relacionando os aspectos saudável, ecológico, puro e sustentável a partir de uma matriz produtiva que se sustenta na pobreza, na desigualdade, na devastação da biodiversidade e da transgenia, realizada através das articulações de detentores de commodities, de sementes e do grande monopólio alimentar, é algo assustador. O problema é que, como são essas empresas que “organizam” a alimentação de grande parte dos países (diga-se, com base em poucas espécies animais e vegetais, desnutridas de conteúdo nutricional e cultural), existe um conflito de interesses e, como falamos antes, de projetos de sociedade.

IHU On-Line – Quais as principais reflexões que você trará para o debate sobre cadeias agroalimentares, slow food e mercados alternativos?

Julia Coelho de Souza– A reflexão é sobre os processos (políticos, econômicos, culturais) envolvidos no processo de produção, comercialização e consumo, com o foco nas cadeias agroalimentares. Para entender de forma mais clara a delimitação conceitual dessas cadeias, me apoio na reflexão de Terry Marsden, geógrafo holandês, sobre os sistemas agroalimentares e as cadeias curtas e longas. A cadeia envolve todo o caminho e relações: a produção, os processos e beneficiamentos, a distribuição e suas redes, atores sociais individuais e coletivos. Nisso se insere a discussão dos mercados alternativos e, de certa forma, as cadeias que fomentam algumas das redes e grupos participantes das ações do movimento slow food. Aqui vale uma separação também, não para dividir, mas para explorar melhor cada um dos temas.

Como “mercado alternativo”, podemos entender diversas formas de mercado, de redes de compras por internet, passando pelo comércio informal nas cidades, até as feiras de trocas e boutiques especializadas de produtos com determinado atributo. Um “mercado alternativo” não existe sozinho; ele é alternativo em relação a algo. Então é preciso delimitar, ou pelo menos entender, com qual campo de forças se está lidando, quais são as disputas que estão envolvidas, a partir do alternativo em relação à estrutura ou as dinâmicas sociais atuais, colocadas à coletividade da sociedade como situação, como verdadeiras.

Aqui estamos pensando nas dinâmicas dos mercados que envolvem alimentação, buscando observar alguns desdobramentos das dinâmicas de produção, distribuição e consumo de alimentos e entendendo alimentação como um produto de consumo e como um bem simbólico. Tudo isso na intenção de identificar alguns dos tantos processos políticos diretamente envolvidos nas dinâmicas de distribuição de alimentos, talvez fator primeiro na relação com o consumo e a produção.

IHU On-Line – O que faz parte do conceito de slow food hoje?

Julia Coelho de Souza – Meu envolvimento com o slow food aconteceu durante os anos de 2008 e 2009 e, desde então, não tenho me envolvido tanto com os grupos slow food a ponto de poder situar o debate atual conceitual no âmbito dessa organização. O que posso é buscar alguns fios de relação entre os debates que estão sendo colocados e algumas linhas de ação puxadas por essa organização, essa rede formada por sujeitos sociais individuais e coletivos. A ideia de alimentos como fortaleza e comunidades do alimento me parecem riquíssimas para relacionar o tema da biodiversidade (agrobiodiversidade, sociobiodiversidade) e dos processos culturais envolvidos na produção, comercialização e consumo de alimentos, com a grande campanha, ou mesmo essa busca contemporânea, por um papel político do consumidor e dos atores sociais envolvidos. Aí se unem de maneira interessante o consumidor final e, seguindo a cadeia, os distribuidores de produtos agroalimentares (que podem ser o supermercado, loja especializada ou mesmo o restaurante gerenciado por chefes de cozinha), envolvendo os diferentes elos destas amarras, com o produtor, seu meio produtivo (ambiental, cultural).

A iniciativa desta organização de identificar alimentos como fortalezas traz consigo uma ideia e ação de salvaguarda em relação a determinados alimentos, o que é muito importante e interessante. Esta pauta se organiza através de estímulo a projetos concretos de desenvolvimento e fomento à produção (seja agrícola ou mesmo extrativista) em relação à territorialidade (contexto socioeconômico, espacial e cultural) onde se insere esse produto. É uma importante “lembrança” que muitos processos produtivos estão diretamente relacionados com comunidades, com culturas, com saberes locais. Buscar a salvaguarda de saberes e sociabilidades através de um bem de consumo é um gancho interessante para o debate do consumo e do fomento de cadeias produtivas inseridas em modelos e paradigmas de desenvolvimento social e econômico.

O que é importante colocar nesse momento é que existem referências para o slow food em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul. A indicação que tenho é o e-mail de um grupo local de articulação da organização slow food com a pesquisa acadêmica e os saberes locais em cima do que se conceitua como “produtos da terra”. O contato com esse grupo é produtosdaterra@slowfoodbrasil.com

IHU On-Line – Qual o papel da economia solidária neste contexto de consumo responsável?

Julia Coelho de Souza – A economia solidária é outro conceito que tem que ser trabalhado com a atenção de atribuir sentido a esse tema, situando-se, primeiramente, o que se entende como economia solidária, ou em termos práticos, como tenho buscado trabalhar com esse tema no âmbito do coletivo em que me insiro hoje. Como política pública, efetivamente não se está avançando muito no sentido da aposta no debate político entre economia solidária e consumo. O tema da economia solidária (assim como o slow food), como um “movimento”, não é facilmente aceito e digerido de maneira consensual, clara, o que para além de ser simplesmente uma posição teórica, reflete-se em diversas instâncias políticas, de legitimação, de articulação e de fomento.

Na UFRGS estamos experimentando o fomento a circuitos de informação, estímulo para a formação de redes que se direcionem à formação de atores sociais coletivos. Esse sentido de coletividade, inserido na ideia de solidariedade (que está tão gasto), de economia solidária (que está tão turbulento), parece ser uma ideia-força fundamental para pensar os temas que se relacionam com o consumo. Porque, por mais individual(ista) que o consumo possa ser, ele é um ato repleto de coletividades e está permeado por emaranhados sociopolíticos. Além do consumo responsável não ser sozinho, ele não é isento.
    

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

CNA foge de debate sobre agrotóxicos

Um episódio estarrecedor marcado pela falta de respeito à democracia e ao livre debate de ideias provou, mais uma vez, que os ruralistas não têm como defender o indefensável.
Na tarde desta terça-feira (6/9), um dos representantes da Campanha contra os Agrotóxicos e Pela Vida no Distrito Federal e integrante do SINPAF, Vinícius Freitas, participaria da gravação do programa “Meio ambiente por inteiro”, da TV Justiça, em Brasília, para debater o problema do aumento do uso dos agrotóxicos no Brasil. Além de Vinícius, a produção do programa convidou também o integrante da Confederação da Agricultura e Pecuária no Brasil (CNA) José Mário Schereiner, para expor a visão da entidade em relação ao tema.
Após serem recebidos pela equipe do programa, os debatedores foram informados da linha de condução das perguntas. No roteiro da entrevistadora, a primeira pergunta seria direcionada ao ruralista e afirmava ser utópica a possibilidade de acabar com o uso de agrotóxicos no país.
No início da gravação, a jornalista apresentou os participantes e chamou o VT de um trecho do documentário “O veneno está na mesa”, recém-lançado pelo cineasta Sílvio Tendler e que ganhou repercussão nacional, que serviria como pontapé inicial para o debate.
Antes que a transmissão do trecho do filme terminasse, porém, um dos três assessores de Schereiner que acompanhava a gravação dentro do estúdio correu até a apresentadora e determinou a interrupção do andamento do programa. “Não sabíamos que vocês iriam exibir esse filme, podem parar”, bradou o assistente.
O dirigente ruralista, por sua vez, passou a argumentar de forma agressiva com a equipe de jornalistas que não continuaria com a gravação e que não estava ali “para que seus filhos o vissem como assassino”.
No intuito de garantir o debate, a produção se desculpou e propôs que a exibição do VT fosse excluída, o que de pronto foi negado por Schereiner. O grupo deixou o local alegando “insegurança” para continuar a gravação.
“Lamentamos não ter podido promover um debate saudável sobre um assunto tão importante para a população. Continuamos à disposição do programa e da sociedade brasileira para ouvir e argumentar”, afirma Freitas.
Por fim, o programa não foi gravado, mas a produção do “Meio ambiente por inteiro” afirmou que pretende convidar novamente o SINPAF para debater o tema.
Fonte: Sinpaf – Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (por Maria Mello), 08/09/2011.

Tá dificil de entender? A gente desenha...

Código Florestal: o futuro ameaçado


"Dizem que vai chover neste fim de semana", diz, esperançoso, o motorista da Globo em Brasília (DF). Quem vai à capital sempre, como eu faço há três décadas, percebe que as secas têm piorado. O ar em Brasília esteve irrespirável nesta estação em que no centésimo dia sem chuva nasceu minha neta Manuela. Os governantes não têm idéia de que é preciso mitigar os efeitos do clima.
Os governantes que administram a capital concretada no Planalto Central, e que dirigem o País de tão abundante biodiversidade, não parecem ter muita noção das necessidades impostas nestes tempos de mudança climática. Um estudo do Imazon e do Proforest, comparando vários países, dá uma noção de como o debate no Brasil se passa como se fosse travado por alienistas.

O Brasil quer mais facilidade para desmatar, quando inúmeros países que já desmataram estão reconstruindo cobertura florestal. A capital sofre rigores da seca, que ficam pior a cada ano, e nunca pensou que pode tomar medidas de mitigação para o futuro que será de piores extremos.

Quando a umidade do ar este ano chegou a 10%, senti aqui o que só havia sentido no deserto da Arábia Saudita. A mãe da presidente chegou a ser internada; a filha de cinco anos de uma ministra sangrava pelo nariz todas as noites. Quem chega de fora sente que tem piorado muito.

Puxa-se o ar e é como se ele tivesse dificuldade de entrar nos pulmões, a mucosa nasal fica irritada, a coriza aumenta como numa crise alérgica, a garganta queima, a pele coça, o corpo pesa. É agoniante.

Tudo isso é tratado com naturalidade. E não é normal. Brasília sempre teve invernos secos com calor de dia e frio à noite. O fogo começa em algum lugar, de repente. Uma das queimadas que vi jogou para o ar material particulado que me provocou uma forte reação alérgica. Tudo tem ficado pior a cada ano e a cidade está mergulhada em discussões que parecem bizarras para quem chega de fora e tem noção do contexto.

Os governantes querem autorizar um estacionamento numa área de preservação perto do aeroporto, querem um shopping sobre nascentes que alimentam o Parque Olhos D'Água, na Asa Norte, e a Floresta Nacional vai minguando por ocupações e incêndios. Há uma guerra de pareceres sobre se a água que surge no parque é nascente ou de origem fluvial. É água numa terra calcinada, é isso que importa. Uma foto exibida na sexta-feira no Bom Dia DF mostra como partes do parque que tinham nascentes foram cimentadas para construções.

O governo não se dá conta de que é preciso urgente adotar medidas de mitigação para enfrentar secas mais secas e mais longas. É preciso mais cobertura vegetal em Brasília e não mais concreto. O Brasil inteiro trabalha na direção contrária à lógica e ao bom senso. Este ano o desmatamento está aumentando. No mínimo, o governo deveria se preocupar com a imagem externa, afinal o Brasil está na vitrine por hospedar no ano que vem a Rio+20..

O debate do Código Florestal ressuscita argumentos do século passado sobre as florestas como impedimento ao progresso. Santa Catarina passou por duas enchentes terríveis, a Região Serrana do Rio soterrou moradores, o caudaloso Rio Negro na Amazônia vive mais uma seca recorde que o transformou num fio d'água. E mesmo assim, o Brasil quer menos áreas de preservação permanente (APP).

Brasília e Brasil têm o mesmo comportamento alienado. É como se as mudanças climáticas não estivessem em nossos calcanhares, ameaçando o futuro dos brasileiros que nascem hoje. Minha primeira neta, Mariana, aos 5 anos, tem mais consciência ambiental do que a maioria dos senadores que está hoje discutindo o Código Florestal. Ela é que alerta os pais e avós sobre separação de lixo e detesta histórias em que os bichos morrem. O futuro não nos pertence - é das crianças - mas sobre ele tomamos decisões perigosas e insensatas.

O estudo do Imazon e Proforest nasceu de uma dúvida que surgiu numa reunião do Greenpeace. Será mesmo verdade que o Código Florestal, com as restrições que querem flexibilizar, só existe no Brasil, como a jabuticaba? Quando os ruralistas dizem que um código assim só existe no País querem facilidade para desmatar, perdão para quem desmatou. Quando os ambientalistas estufam o peito e dizem que uma legislação boa assim é criação brasileira se enfraquecem sem saber. O estudo compara legislações do mundo e conclui que o desafio em todos os países é proteger e aumentar coberturas florestais. Estamos na contramão da História.

O estudo foi feito por Ruth Nussbaum, do Proforest, afiliado à Universidade de Oxford, na Inglaterra, e Adalberto Veríssimo, do Imazon. Mostra que quase todos os países seguiram a mesma trilha: aumentaram o desmatamento no começo do século XX, depois estabilizaram e, em seguida, iniciaram programas de reconstrução das coberturas florestais. O Brasil ainda permanece preso à primeira fase e nos últimos anos tudo o que teve para comemorar foi queda do ritmo da destruição. Este ano nem isso poderá comemorar porque o desmatamento aumentou.

O estudo, que será divulgado no começo de outubro, traz estatísticas e constatações. A primeira é que as leis nos países analisados - Estados Unidos, Inglaterra, China, Holanda, Alemanha, entre outros - favorecem o aumento da cobertura e não o contrário; a segunda é que o desmatamento zero é possível; a terceira é que floresta é riqueza e não obstáculo.

O cerrado que queima no coração do Brasil, a Amazônia que tomba ao ritmo de 10 mil quilômetros quadrados por ano, os últimos fragmentos da frágil Mata Atlântica precisam que o Brasil veja o futuro que se aproxima.


Miriam Leitão